No dia 29 de outubro acontece a Primeira revisão de Álgebra Linear, destinado a alunos da UFRN que cursam a…
Enxergar-se um potencial cientista ainda não é comum entre alunos da educação básica brasileira, seja pela falta de compreensão sobre a ciência ou acesso a novas metodologias que incentivem o processo de ensino-aprendizagem. É dentro dessa realidade que o Cometa Nordestino surge, com o propósito de incentivar a vocação científica por meio da popularização da astronomia e da astronáutica. Com foco especialmente nas escolas da rede pública, o projeto de extensão foi criado neste ano e reúne polos em três instituições: a Escola de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (ECT/UFRN), a Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e o campus Vitória da Conquista do Instituto Federal da Bahia (IFBA). Por ora, já foram realizadas pelo menos 10 ações em cidades baianas, enquanto em Natal a primeira missão será realizada nesta sexta-feira, 16 de junho, com toda a equipe.
O projeto soma 13 docentes e 13 estudantes atuando em Natal (RN), Feira de Santana (BA) e Vitória da Conquista (BA) e tem a expectativa de atender pelo menos 15 cidades ao redor dos três polos em 2023. O professor Leonardo Almeida, coordenador do Cometa na ECT/UFRN, aponta que o Brasil ainda está entre os países com menores resultados quando o assunto é aprendizagem em ciência. Segundo mostrou o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) de 2018, 55% dos estudantes brasileiros com 15 anos de idade não possuíam nível básico na disciplina.
Em comparação aos países da América do Sul, o Brasil está em último lugar na proficiência em Ciências, com 404 pontos, empatando com Argentina e Peru. Já em relação aos membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o país apresenta três anos de atraso na escolarização. Aliado a isso, apenas 15% dos jovens brasileiros demonstram interesse por profissões relacionadas às ciências e tecnologia. Quando ingressam em graduações na área, revelam “uma defasagem significativa” nos conteúdos de ciência e matemática, aponta o docente.
Para mudar esse cenário de forma inclusiva, o professor Leonardo defende que as ações de difusão e popularização de astronomia e astronáutica são essenciais. “A relevância para a comunidade da UFRN vai desde o engajamento e capacitação dos nossos estudantes extensionistas em diversas áreas ligadas à astronomia e à astronáutica (por exemplo, eletrônica aplicada, computação, modelagem gráfica, física, matemática etc.), como também oportunizar a convivência com a realidade social e prática profissional”, complementa.
O professor Marildo Pereira, coordenador do Cometa Nordestino em Feira de Santana, partilha de uma visão semelhante e adverte que o ensino da ciência encara uma carência de novas tecnologias e contextualização. A iniciativa, dessa forma, abre caminhos tanto para o aprendizado dos estudantes quanto para a formação continuada dos professores. Isso porque, ao mesmo tempo em que as oficinas buscam engajar os alunos, os docentes atualizam conhecimentos ligados à astronomia e à astronáutica.
Para a UFRN, por sua vez, a extensão contribui para a formação dos colaboradores e aproxima a academia das comunidades externas. “A função da extensão é sair dos muros da Universidade e mostrar o que produzimos dentro dela. É isso que esperamos que os projetos de extensão façam”, enfatiza o docente. Somado a isso, ele defende ser fundamental criar vínculos com os professores das escolas, com o objetivo de que eles se tornem parceiros e incentivem a realização de novas ações junto ao corpo estudantil.
No polo Feira de Santana, seis missões já foram realizadas em escolas públicas e institutos federais, mas o histórico da UEFS na popularização de astronomia e astronáutica contempla resultados para além do Cometa Nordestino. O Projeto Planetário Itinerante do Observatório Astronômico Antares, por exemplo, acontece desde 2007 e pretende atender 22 cidades da Bahia apenas neste ano. “Em 2003, passamos a ter os grandes projetos, mas desde 2001 trabalhamos com planetário, divulgação de ciência e visitas às escolas”, esclarece Marildo Pereira.
Realidade semelhante é observada no IFBA de Vitória da Conquista, responsável por promover a Jornada de Astronomia há mais de 15 anos, além de observações do céu e sessões no planetário itinerante. A professora Selma Vieira, coordenadora do Cometa Nordestino na instituição, pontua o papel decisivo da iniciativa para a interiorização da ciência. “Essa divulgação e essa popularização da ciência – porque a gente termina falando não apenas de astronomia – é uma motivação e uma oportunidade que os alunos têm, principalmente os de cidades pequenas e da zona rural. Eles estão muito distantes”, complementa.
É esse desejo, retratado em casos ainda isolados, que o Cometa Nordestino pretende expandir. “Nas nossas ações, esperamos que ao estimular a abstração, a curiosidade científica, a crítica por meio de indagações científicas, as práticas da observação e da experimentação, possamos despertar o espírito científico e tecnológico nos estudantes e na população em geral, ampliando e valorizando o ensino de ciências e a busca pelas carreiras científicas e tecnológicas”, destaca o coordenador da UFRN, para quem o projeto é fundamental na busca por soluções aos problemas enfrentados pelas escolas de ensino básico.
Extensão no desenvolvimento estudantil
Se por um lado o Cometa Nordestino possibilita impactos positivos para a comunidade, por outro auxilia na formação dos estudantes colaboradores. A natalense Poliana Araújo, de 21 anos, estuda Ciência e Tecnologia na UFRN e encontrou no Cometa Nordestino a chance de cultivar um interesse da infância e desenvolver novas habilidades. Embora hoje tenha como propósito ingressar na Engenharia da Computação, quando criança era a astronomia e a astronáutica que despertavam sua curiosidade. “Eu pensei que poderia ser uma oportunidade de reviver esse interesse e quem sabe gostar da área de novo. Conseguir juntar computação com astronomia”, relata a estudante.
Para ela, participar do cotidiano do projeto também é uma chance de aprender a trabalhar em equipe. Ao lado dos demais bolsistas e voluntários, adquire conhecimentos sobre os experimentos e oficinas de forma prática, ao mesmo tempo que assimila a teoria que será repassada nas escolas. Em sua primeira experiência na extensão, já demonstra compreender a importância desse diálogo e lança expectativas positivas. “Uma perspectiva que eu tenho é conseguir passar conhecimento para as pessoas. É uma coisa que eu quero aprender”, diz.
O desejo de popularizar conhecimentos também move a potiguar Júlia Alanne, de 23 anos, que estuda Engenharia da Computação na UFRN. Apesar do interesse na área de astronomia e astronáutica acompanhá-la há tempos, foi no Cometa Nordestino que passou a buscar mais aprendizados em ambas ciências. Nas preparações da primeira missão, ela aguarda ansiosamente a chegada do projeto de extensão em escolas do RN. “Minhas expectativas para as ações são altíssimas, não vejo a hora de levarmos as oficinas e experimentos que foram desenvolvidas pela equipe para as escolas ”, conta.
Para o baiano Wander Oliveira, bolsista do Cometa Nordestino na UEFS e atuante na extensão desde 2018, transmitir conhecimentos e prender a atenção dos estudantes por meio das ações do projeto é gratificante. “Quando a galera está prestando atenção, a gente pode levar a frente o funcionamento das coisas, com eles se divertindo ao ver os experimentos, aquela coisa mágica. É muito gostoso ao longo de todo esse período estar fazendo a criançada se interessar por ciência. Eu acho que a coisa que mais me deixa grato e mais me diverte é o fato de fazer os estudantes se interessarem por ciência”, fala com entusiasmo.
Quem também soma uma bagagem significativa na extensão é Wesley Santos, de 24 anos, bolsista do polo Feira de Santana. Com mais de dois anos atuando junto à comunidade e agora no Cometa Nordestino, ele destaca a relevância do projeto para inspirar o público a acreditar na ciência por meio da compreensão dos seus fenômenos. Na formação pessoal, especialmente, não deixa de reconhecer o quanto cresceu trabalhando fora do espaço acadêmico. “Quando ingressei na extensão, nos meus primeiros anos, eu era extremamente introvertido e tinha dificuldade de falar com o público. À medida que comecei a participar da extensão, consegui mudar a forma como falo e ser mais sociável”, revela.