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A descoberta de uma nova mutação do Sars-CoV-2, Covid-19, tem alterado as relações sociais ao redor do mundo. Desde dezembro de 2019, quando foi localizado pela primeira vez em Wuhan, na China, o vírus se espalhou rapidamente pelos cinco continentes. O primeiro caso no Brasil foi registrado em 26 de fevereiro de 2020, na cidade de São Paulo.
Hoje o Brasil conta com mais de 2 milhões de casos, e o distanciamento social, uso de máscaras e medidas de higiene pessoal seguem sendo as melhores alternativas na luta contra o vírus enquanto o processo de produção de uma vacina segue em progresso. Além disso, universidades e instituições de pesquisa continuam desenvolvendo meios de auxiliar a população neste combate.
Pensando por esta perspectiva, a UFRN deu início ao ELIAS – Epidemiologia Laboratorial com Inteligência Artificial na Saúde, como uma alternativa para ajudar na decisão do usuário em buscar unidades de saúde ou não, visto que o SUS não suporta grande quantidade de pessoas ao mesmo tempo.
A ideia inicial surgiu em meados de fevereiro quando foi registrado o primeiro infectado pelo vírus no Brasil. Sob a coordenação do Professor Efrain Pantaleón Matamoros, o grupo de pesquisa responsável pelo app é composto por profissionais de saúde da Facisa e outros professores da UFRN. Além disso, o projeto conta com a participação voluntária de pesquisadores, entre graduandos, cientistas, engenheiros, economistas e matemáticos.
Funcionamento geral
Inicialmente, a ferramenta foi idealizada como sistema na área web, em formato de website, porém, foi notado que não teria adesão ampla entre a população. De acordo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2015, apenas 46,2% dos domicílios possuíam computador. Logo, foi pensado em um formato de aplicativo, para facilitar a acessibilidade, visto que, segundo dados divulgados pelo IBGE, em 2019, 79,3% da população possuía um aparelho celular.
Atualmente é possível acessar tanto o website através do link <https://elias.ect.ufrn.br/#/>, quanto o aplicativo – download do app na Play Store – para realizar o cadastro e informar dados pessoais solicitados. A ideia é aumentar o número de usuários possibilitando mais opções para o uso do programa. Em seguida, é preciso realizar as seguintes medições: temperatura, sinais vitais – frequência respiratória e pulsação – e registrar os valores no sistema para que seja possível analisar o ciclo circadiano – ou popularmente conhecido como relógio biológico, é o que dita o ritmo do organismo do ser humano, todos os seus horários e funcionamento.
Para utilizar o aplicativo deve ser maior de 18 anos e aceitar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE/TALE). O usuário pode abandonar a pesquisa a qualquer momento, basta não atualizar suas medições, assim, todos os seus dados serão apagados dos servidores.
Parcerias e contribuições externas
Uma parceria entre pesquisadores da Escola de Ciências e Tecnologia (ECT), do Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Inovação (PPgCTI) e da Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí (FACISA) deu origem ao ELIAS. Além dos professores, o projeto também contou com a participação de voluntários graduandos e profissionais formados já atuantes na área da saúde.
Antes que a pesquisa pudesse ser aplicada em estudos em humanos, o ELIAS passou pela análise do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, processo que foi fundamental para que o aplicativo pudesse se adaptar às normas exigidas para ser disponibilizado à população.
Além disso, representantes de órgãos externos à UFRN também contribuíram. O ex-secretário Jaime Calado, da Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SEDEC), influenciou o registro da marca no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), que garante a proteção contra plágio e impede que outras tecnologias sejam desenvolvidas da mesma maneira. A secretária de Saúde da 5ª Região do Rio Grande do Norte, Maura Roberta Guilherme de Lima Luduvico, atuou ativamente no processo de aprovação do app na plataforma Play Store.
Desenvolvimento do aplicativo
O ELIAS foi programado na linguagem JavaScript, e foram utilizadas as bibliotecas ReactJS, para área web, e React Native, para mobile. Já o backend – parte invisível ao usuário, que define o funcionamento da ferramenta – utilizou-se Java e Spring Boot. Foi utilizada uma linguagem de fácil entendimento, com perguntas similares a de médicos, com descrição de passo a passo de como fazer cada procedimento de medição.
O processamento de dados consiste na comparação dos riscos de saúde do usuário – dado pelas informações inseridas anteriormente – com a doença pesquisada, que atualmente é a Covid-19.Os dados que baseiam a classificação do risco são existência de algum tipo de comorbidade, sinais vitais (temperatura, pulsação e frequência respiratória) e patológicos, tais como diarreia, tosse e febre. Tudo é feito através de uma análise do ciclo circadiano do participante, caso aconteça alguma alteração
Esses dados são processados e conforme saem da normalidade – nenhuma comorbidade, sinais vitais dentro dos intervalos aceitos e sem nenhuma patologia – , serão feitos pontos com base em dados estatísticos, que mostram a porcentagem dos casos da doença que tiveram tal sintoma e, dessa forma, no final são contabilizados os pontos feitos pelo usuário. Logo, é apresentada uma pontuação de 1 à 5 – onde 1 seria nenhum risco, e 5 uma situação de grande risco que necessita de um atendimento médico.
Perspectiva dos voluntários de graduação
A participação em projetos como este prepara estudantes e mudam suas perspectivas sobre o mundo ao redor. Estar em uma universidade federal, além de ser motivo de realização pessoal, é, ainda, uma oportunidade para adquirir experiências e consolidar uma rede de contatos. O estudantes voluntários repercutem esse sentimento de agradecimento pela oportunidade de participar de mais uma conquista acadêmica.
Além disso, uma relação saudável entre professor e aluno é fundamental para o trabalho em equipe. Esse comportamento foi enfatizado durante o desenvolvimento do projeto e reverberado pelo estudante de Engenharia da Computação, Douglas Carvalho, “Os professores e alunos sempre estiveram à disposição para ajudar quando preciso em um sentimento de parceria”, disse.
A universidade pública possibilita conexões e experiências que marcam a vida acadêmica dos estudantes. É importante salientar o papel fundamental que as instituições de pesquisa exercem principalmente em momentos atípicos como o que o mundo está passando hoje. Entretanto, mesmo com toda contribuição, universidades públicas e instituições de pesquisa ainda têm sido atacadas e sucateadas há anos.
Em situações como esta, são professores, médicos, pesquisadores e estudantes que se impõem na esperança de promover conhecimento, ciência e informação para a população. Como foi dito pelo voluntário Daniel Fernandes, “A universidade possibilita uma rede de conexões gigantesca e que sempre surgem grandes ideias dentro dela. Com o investimento devido, a universidade consegue pegar esses projetos e elevar a escala nacional, ajudando o máximo de pessoas possível.”
Equipe
Efrain Pantaleón Matamoros
Isabelle Ribeiro Barbosa Mirabal
Douglas de Souza Carvalho
Gláuber Carvalho
Efrain Marcelo Pulgar Pantaleón
Dianelys Pantaleón O’farrill
Jéssica Caroline Macedo Teixeira Martins
Zulmara Virgínia de Carvalho
Daniel Fernandes Gonçalves de Oliveira
Herculana Torres dos Santos
Elton José Figueiredo de Carvalho
Carlos Eduardo Pellicer de Oliveira
Carlos Alexandre Camargo de Abreu
Rafael Garcia Dantas
Orivaldo Vieira de Santana Júnior
Felipe Macedo Zumba
Hewerton Adão da Paz
Rummenigge Rudson Dantas
José Vitor Bruno Vicente de Araújo
Kleitianne Silva de Macêdo
Nayre Beatriz Martiniano de Medeiros