O projeto Cometa Nordestino espalha conhecimento científico e inspira um futuro de possibilidades nas comunidades nordestinas...
Nos corredores e salas da Escola Estadual em Tempo Integral Vereador José Moacir de Oliveira (JMO), localizada em São Gonçalo do Amarante, a curiosidade e a descoberta foram pulsantes durante a 1ª missão do Cometa Nordestino (ECT/UFRN) no Rio Grande do Norte. Por meio de uma programação variada incluindo palestra, oficinas e experimentos, a equipe discutiu com ludicidade diferentes fenômenos ligados a Astronomia e Astronáutica junto a cerca de 200 estudantes do ensino médio. Para além da exposição de conteúdos, foram os diálogos acompanhados de perguntas simples, como “o que é o espaço-tempo?” e “por que só vemos uma face da lua”, os responsáveis por potencializar os aprendizados e despertar o interesse coletivo pela ciência.
A Ação foi realizada na última sexta-feira, 16 de junho. Na Trilha Científica, composta por cinco experimentos, o movimento de estudantes foi presente da primeira apresentação ao final das atividades. Entre os olhares ora mais atentos, ora mais tímidos, que rodeavam as mesas da trilha, estava o do estudante Jean Gabriel da Silva Cruz, aluno do 1º ano da JMO. Próximo à mesa do experimento Fases da Lua, ele escutou atentamente as explicações sobre o satélite natural da Terra, responsável por estimular suas primeiras pesquisas sobre o universo.
“O conteúdo sobre o universo é um mistério que quero conhecer e descobrir. Comecei a estudar sobre a lua e depois passei a [estudar] sobre as estrelas, planetas e buracos negros”, compartilha. Aos 15 anos, embora não sonhe com uma universidade específica, é o projeto de tornar-se astrônomo que faz seus olhos brilharem. Brilho esse também presente nas suas pequenas descobertas, entre elas, a que aprendeu na Trilha Científica: a existência de mais quatro fases intermediárias da lua (Quarto Crescente, Crescente Gibosa, Minguante Gibosa e Quarto Minguante).
A curiosidade também chamou a atenção da estudante Pamela Raíra, de 16 anos, aluna do 2º ano. Cativada pelos mistérios científicos desde a infância, ela reconhece ser uma grande ‘admiradora da Lua’ e por muito tempo pensou em cursar Ciências Naturais. Com o passar do tempo, o sonho mudou de foco para a área de Biologia, mas o céu continua sendo motivo de questionamentos. Entusiasmada, enumera algumas ações do Cometa Nordestino que somaram ao seu aprendizado: oficina de foguetes, fases da lua e cosmocine.
A responsável por transmitir as informações sobre a Lua aos alunos foi a estudante de Ciência e Tecnologia (C&T) Ludmila Kelly, para quem integrar o Cometa Nordestino vem sendo uma oportunidade de consolidar a paixão pela Astronomia. No experimento Fases da Lua, em que atuou como ministrante, o objetivo foi explicar os movimentos realizados pelo satélite natural da Terra e suas diferentes fases. Na sequência, houve uma atividade prática com uma maquete.
A estudante defende que a abordagem simplificada dos conteúdos é fundamental para a popularização da ciência e destaca o papel exercido pela troca de conhecimentos entre os estudantes. “Eu me coloco no lugar do estudante. Fico pensando [como teria sido] se isso tivesse acontecido na minha época como estudante de ensino médio e fundamental. Acho super relevante o estudante passar informação para outro estudante. Quando eles veem uma figura mais parecida com eles, que não seja a do professor que está na sala de aula e eles sabem que tem o conhecimento, conseguem, talvez, se motivar”, complementa.
Inspiração para a vocação científica
Se a inspiração é despertada nos alunos ao verem um estudante divulgando ciência, o sentimento pode ser ainda maior quando trata-se de alguém com uma trajetória semelhante. Para a estudante Alana Costa, bolsista no Cometa Nordestino e ex-aluna da Escola Estadual em Tempo Integral Vereador José Moacir de Oliveira, a oportunidade de retornar à instituição e mostrar que alunos de escola pública podem ingressar em uma universidade federal para fazer ciência é motivo de alegria. “Apesar disso, o sentimento não é de dever completamente cumprido. Tudo isso me traz muita alegria, muita satisfação, mas acredito que é só o começo”, adverte a estudante, que hoje cursa o 6º período de C&T na UFRN e apresentou o experimento Trânsito Planetário durante a missão.
O estudante do 2º ano Pablo Adriano, de 16 anos, também enxerga na identificação um caminho para o incentivo. Sem pensar duas vezes, comenta que sua principal inspiração na JMO é o professor de física Ed-Ek Soares, com quem teve a oportunidade de aprender mais sobre ciência. “Quando ele começou a falar sobre Astronomia, Astrofísica e coisas relacionadas, foi incrível”, destaca o aluno. Agora, após a experiência com o Cometa Nordestino, o sentimento é de gratidão e novos estímulos para seguir a vocação científica.
A perspectiva do aluno reflete os esforços da JMO para fomentar o aprendizado dos alunos na rotina escolar. O professor Alessandro Apolinário, diretor da instituição, comenta que na escola há uma descentralização para que os professores possam desenvolver metodologias ativas com mais liberdade. A abordagem mais lúdica, contudo, vem sendo um desafio maior e a parceria com o Cometa Nordestino chegou para somar nesse sentido. De acordo com ele, embora outros trabalhos já tenham sido realizados com comunidades externas, a missão foi a primeira com foco em ciência.
Fora a ludicidade, o professor de física Ed-Ek Soares destaca que um dos principais desafios enfrentados na docência é expor aos alunos a importância do âmbito científico e suas possibilidades, seja como caminho profissional ou intermédio para impactar a sociedade. A expectativa dele, nesse sentido, é de que os alunos utilizem as experiências no Cometa Nordestino como encorajamento para estudar mais sobre C&T. “Em outros momentos, nós tivemos ações até mais simples do que um dia assim, e a gente viu que fez diferença, despertou a vontade de alguém de procurar um pouco mais”, compartilha.
A visão de Ed-Ek vai ao encontro da perspectiva do professor Leonardo Almeida, coordenador do Cometa Nordestino na ECT/UFRN, para quem o contato do projeto com a JMO mostrou o quanto os estudantes do ensino médio são apaixonados por ciência. “Os relatos deles, feitos em entrevistas para a nossa equipe e em suas próprias redes sociais, revelaram a importância dessa aproximação da Universidade com a comunidade. Mostrar que o ensino superior é algo palpável foi como aproximar o sonho daqueles estudantes da realidade”, destaca.
Para as próximas missões, esclarece, as perspectivas são de aprimorar as atividades realizadas pela equipe e adicionar sessões de planetário e observação do céu noturno na programação. “Além disso, pretendemos interagir mais com os estudantes, propondo que façam seus próprios experimentos como numa pequena feira de ciências”, finaliza.