Supermercado das Palavras: jogo educacional alfabetiza enquanto diverte

A iniciativa, de autoria de uma graduanda de C&T, tem como público alvo alunos com idades entre 10 e 11 anos que ainda não são alfabetizados.
Escrito por: Francisca Pires | Publicado em: 25 de fevereiro de 2022

Foi durante as aulas de Lógica de Programação que a graduanda do curso Ciências e Tecnologia/UFRN, Milena Xavier, teve seu primeiro contato com a criação de jogos educacionais. A iniciativa de criar esse tipo de ferramenta foi idealizada pelo professor Aquiles Burlamaqui e adotada por outros professores que lecionam essa disciplina, como é o caso de Orivaldo Santana, docente da turma na qual Milena fazia parte. Diante disso, logo após ser apresentada a sua orientadora, Karen Christina, Milena ouviu da professora, integrante do Núcleo de Tecnologias Educacionais da Prefeitura de Natal, que, infelizmente, muitos alunos da quinta série ainda não eram alfabetizados. “Foi a partir desse contexto que surgiu meu interesse em direcionar o jogo, como ferramenta educacional, para o eixo da alfabetização”, conta Milena. 

O jogo “Supermercado das Palavras” foi desenvolvido por três pessoas no total. Milena Xavier, atuou na parte da programação e construiu a ideia do jogo. A professora Karen Christina orientou na parte relacionada à alfabetização. Já o professor Orivaldo Santana auxiliou na lógica de programação. A dinâmica do jogo é baseada na associação de imagens e palavras. Consiste basicamente em um supermercado que atua de maneira invertida, isto é, ao invés de o jogador ter acesso a uma lista de compras com itens por escrito, ele tem uma lista com imagens dos itens que precisa comprar. 

Depois de ter feito a identificação visual na lista, o aluno pode procurar os itens na prateleira que está preenchida com os nomes escritos das mercadorias. Há apenas uma opção correta para cada produto. As opções semelhantes entre si distinguem-se umas das outras apenas por erros ortográficos. Ao finalizar a compra, o jogo exibe o número de acertos e erros do jogador. De tal modo, o game auxilia na alfabetização exercitando a leitura visual, verbal e a escrita correta das palavras.

Jogo Supermercado das Palavras/ Fonte: https://milena-x.github.io/supermercadodaspalavras/

Segundo Milena, o jogo foi pensado considerando o viés da alfabetização. A ideia inicial era fazer um jogo que não fosse muito infantil e pudesse avaliar e exercitar o nível de leitura e escrita dos alunos. “É possível considerar que ele atendeu as expectativas iniciais!”, comemora a aluna. Considerando que o jogo seria apresentado como uma atividade avaliativa na disciplina de lógica de Programação, a maior dificuldade no desenvolvimento foi o tempo, uma vez que ele precisaria estar pronto em uma data determinada para ser apresentado. Essa questão acabou comprometendo o número de fases do jogo e também a parte estética que poderia ter sido aprimorada.

Milena Xavier, graduanda do curso Ciências e Tecnologias/UFRN
Fonte: Arquivo pessoal 

O Supermercado das Palavras será aplicado inicialmente na Escola Municipal Tereza Satsuqui Aoqui de Carvalho, no entanto, seu acesso não se restringe somente a ela ou a um público específico. A parceria ColabEduc, Secretaria Municipal de Educação de Natal (SME) e Núcleo de Tecnologia Educacional – NTE, instituição do município de Natal que ofertam cursos para professores no uso pedagógico das tecnologias digitais da informação e comunicação, foi firmada em novembro de 2021, graças ao convite do Prof. Orivaldo que juntamente com Prof. Aquiles apresentaram a proposta do ColabEduc. Em contrapartida, a SME, sobretudo os Formadores de Matemática do setor e o NTE, tendo como responsável a profª Karen Santos, se responsabilizaram pela convocação de professores que quisessem participar do projeto. Nesse projeto específico, o convite foi feito à professora Rita de Cássia do laboratório de informática da Escola Municipal Tereza Satsuqui Aoqui de Carvalho, mas impossibilitada de participar diretamente do projeto, contribuiu compartilhando sua preocupação com os alunos do quinto ano que ainda não são alfabetizados. 

Parceria do Núcleo de Tecnologia Educacional do Município de Natal – NTE com o projeto Colabeduc
Fonte: Acervo Pessoal 

Para Milena, a principal expectativa em relação ao jogo é implementar novas fases para que ele se torne mais completo. Além disso, outra meta é aumentar a sua visibilidade objetivando alcançar e ajudar mais alunos. O professor Aquiles Burlamaqui, por sua vez, enfatiza que a importância desse tipo de projeto consiste na criação de um ambiente interdisciplinar e de integração entre Ensino , Pesquisa e Extensão. “Ideias de professores da Educação Básica podem ser materializadas, no formato de games educacionais, por alunos de programação e esses games podem ser acessados e ajudar estudantes de todo o Brasil a compreender assuntos das mais diversas matérias”, explica.  

Aquiles relata ainda que a experiência de criação de jogos educacionais de maneira colaborativa é gratificante e que, assim como o jogo da Milena, no último semestre foram criadas 244 novas ideias de games e dessas ideias 184 novos projetos de games educacionais foram iniciados. Ao todo já se tem 1.084 ideias cadastradas e mais 900 projetos de games disponíveis. Desde 2019, que o grupo de Lógica de Programação da ECT, formado pelos professores Aquiles Burlamaqui, Rummenigge Dantas, Idalmis Milian, Filipe Taveiros e Orivaldo Santana vem aplicando o PBL (Aprendizado Baseado em Problemas) apoiado pelo Colabeduc. 

O Colabeduc (www.colabeduc.org) visa criar um ambiente colaborativo de desenvolvimento de jogos educacionais unindo professores da educação básica com programadores na criação de games alinhados com BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Para Aquiles, a  evolução tecnológica anda cada vez a passos mais largos. Infelizmente a educação não tem acompanhado essa caminhada. “Se queremos que nossos estudantes consigam fazer parte da construção da sociedade nesse futuro que se apresenta, temos que trazer essa tecnologia para dentro do nosso dia a dia, para dentro do nosso fazer em sala de aula, para dentro de nossas vidas.” finaliza.